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Chantal Akerman em destaque no museu de arte contemporânea de lisboa

De 16 de abril a 7 de setembro de 2025, o Museu de Arte Contemporânea – MAC / CCB, em Lisboa, dedica uma grande retrospecção à obra de Chantal Akerman, figura incontornável do cinema de vanguarda e do feminismo artístico. Esta é a primeira grande exposição em Portugal consagrada à artista belga, aclamada pela crítica e já destacada como uma das dez melhores exposições de 2024 pela revista Frieze.

Uma artista singular

Nascida em Bruxelas em 1950 impôs-se desde cedo no universo do cinema experimental. Aos 15 anos, decidiu tornar-se cineasta após ver Pierrot le Fou, de Jean-Luc Godard. Abandonou rapidamente os estudos no INSAS (Institut National Supérieur des Arts du Spectacle) para realizar Saute ma ville (1968), uma curta-metragem radical onde interpreta o papel principal.

Após uma estadia marcante em Nova Iorque, onde descobriu os filmes de Michael Snow e Jonas Mekas, Akerman desenvolveu uma obra única, atravessada por temas como a solidão, a alienação, o quotidiano feminino, a memória e o exílio. O seu estilo singular, feito de planos longos, atenção aos gestos repetitivos e uma relação muito pessoal com o espaço e o tempo, teve uma profunda influência no cinema contemporâneo.

Obras marcantes

O seu filme mais emblemático, Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), retrata com precisão quase documental a rotina de uma dona de casa que se prostitui para sustentar o filho. Esta obra-prima, hoje considerada um dos maiores filmes do século XX, foi eleita o melhor filme de todos os tempos pela revista Sight and Sound em 2022.

Entre outras obras destacam-se Je, tu, il, elle (1974), Les rendez-vous d’Anna (1978), D’Est (1993) e No Home Movie (2015), um tocante adeus filmado à sua mãe, sobrevivente de Auschwitz. Akerman destacou-se também na instalação vídeo, na performance e na escrita.

Uma retrospectiva ambiciosa

A exposição apresentada em Lisboa, concebida pelo Bozar (Bruxelas), pela Fundação Chantal Akerman e pela CINEMATEK, percorre toda a trajectória da artista, desde os primeiros trabalhos em Bruxelas até os desertos do México, passando por quartos de hotel na Europa e arquivos familiares. A mostra propõe um diálogo entre cinema, instalações, textos e documentos de arquivo inéditos, oferecendo ao público uma imersão num universo artístico rico, íntimo e profundamente comprometido.

Pensada como uma viagem pelas imagens, sons e espaços percorridos por Akerman, esta retrospectiva revela a amplitude e a coerência de uma obra que sempre ultrapassou as fronteiras entre os géneros artísticos. É uma homenagem a uma voz singular, lúcida e livre, cujo eco continua a inspirar novas gerações de cineastas e artistas.